"Há dois meses estive em um acampamento em Buenos Aires. Lá conheci pessoas de países como Argentina, Venezuela , Peru e também pessoas de vários lugares do Brasil. Eram cerca de dois mil jovens que debatiam a situação política e social no seus países. Muitos dos jovens que conversei relatavam a participação deles em momentos fundamentais na história do lugar onde vivem. Eu nunca fui daquele tipo de pessoa que tem vergonha do seu país, pelo contrário, os cidadãos brasileiros sempre mereceram meu respeito, afinal, é essa gente que faz o Brasil crescer. A mesma gente que se espreme nos ônibus cada vez mais lotados pagando caro pela passagem, a mesma gente que dorme na fila do hospital, a mesma gente que não tem acesso à educação de qualidade, mas que com seu suor faz esse país crescer. Mas vendo os argentinos e os venezuelanos compartilharem suas histórias, eu me senti carente de mobilizações fortes aqui também. Eis que no dia que volto de viagem, a minha cidade mobiliza 10 mil pessoas contra o aumento da passagem em uma manifestação pacífica do início ao fim. E vencemos.
Lá na Argentina, os companheiros dos outros países tinham dificuldade de compreender as diferenças culturais dos brasileiros. Ao mesmo tempo que eu acordava e queria tomar meu mate, o amigo de Alagoas estava provando o chimarrão pela primeira vez. Eu dizia: entendam, é um país enorme! E muitas vezes, pensei o quanto seria difícil uma mobilização nacional devido a essa dimensão continental. Estava enganada, felizmente!
Mesmo com a repressão policial e com essa constante tentativa da mídia em deslegitimar os movimentos sociais, foi lindo ver os telejornais repletos de notícias de manifestações. É Rio, é São Paulo... é Turquia. Somos todos nós.
Sim todos nós. Nós somos o jovem pobre da periferia reprimido todos os dias, somos o homossexual que é agredido todos os dias, somos o negro que sofre com o preconceito todos os dias, somos a mulher violentada todos os dias, somos as famílias despejadas de suas casas todos os dias, somos os professores que são desvalorizados todos os dias, somos as pessoas que morrem esperando por atendimento médico na fila todos os dias, somos todos aqueles roubados pela corrupção todos os dias. As causas são muitas, mas lutamos pelo mesmo desejo, o desejo de que nossos direitos e nossa dignidade sejam respeitados.
A voz das ruas tem força e eles têm medo do povo sem medo. Saímos do facebook e tomamos o nosso lugar. Que todas as nossas lutas sejam assim daqui pra frente. Porto Alegre parou, o Brasil parou.
Amigos argentinos, agora eu posso contar, faço parte daqueles que estão escrevendo a história do meu país!"
